quarta-feira, 31 de julho de 2013

Antes que uma lágrima caia


Macapá. Praia do Araxá. -1990


"Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás."

Cazuza / Frejat

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Respingos teus, maus traçados nos meus.

Desce quente,
sussurra teus beijos agora, vai!

Vou beber teu medo, tua timidez.
Te deixo entrar. Não precisa bater na porta,
Veste a camisa, te deita e me engole.

Impregna teu suor aqui.

Talvez amanhã não virás,
mas teu cheiro já me fará respirar...
Daqui a sete dias, quem sabe?!.

Esquece o filme, desliga a tevê.

Vê a chuva? Deixa que me ensope
não me seque por favor,
Queira você estar
em outro instante sobrepor-se a mim!

[Talvez eu não espere!]

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Toques.

Desejo toques...
Mas não é qualquer toque.
Gosto dos dedos das palavras,
Do vento que os gestos causam.
Do sopro quente do beijo que eu mais desejei.

Gosto do abraço doce do sol, ao se pôr
Desse desejo incessante do mar despedindo-se
Da palavra pensada e jogada apenas pelo olhar
Do carinho da chuva
Da língua atrevida
Das mãos seguras
do coração palpitante, agitado com um abraço.




Haikai dos corpos.

      Calor que mela.
    Fundidos e gemidos
    Chovem por dentro.
   

É isso.


Na medida certa.

Camille - se.


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"...acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camille Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura."

terça-feira, 23 de julho de 2013

Todo mundo tem esse momento.



"Me deixa!"

Tenho chance com a vida, talvez.



Azeda. Amarga. Malina. Toda errada. Intolerante. Bipolaridade sentimental. Furos pelo corpo. Animais. Desenhos pelo corpo. Gatos. Letras. Café. Baralho. Música. Livros. Xadrez. Bebida alcoólica. Vícios. Manias. Teimosia. Lilás. Lápis pretos para olhos. Noite. Ilícito é desigualdade social. Tudo que é proibido, não pode, faz mal, mata e engorda. Falta momentânea de memória e de léxico e auto-depreciação. Desorganização. Três qualidades. No máximo. Todos os defeitos.
Deve ter a influencia de touro com ascendência em capricórnio e lua em câncer. Só pode!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Só uma coisa a dizer.

A Gregório de Matos Perguntaram: 


- Que tipo de pessoa dá medo?

O sábio poeta respondeu: 

- "As que falam demasiadamente em nome de Deus, que Deus disse isso, aquilo ... e é incrível que Deus nas bocas dos abençoados nunca diz que o homem é bom! Dá vontade de ser bom e ter a sensação de que isso não vem de Deus. Dá vontade de ir à Igreja ... mas o Deus que falam tanto não gosta de mim! "



Do livro Poemas e análises de Gregório de Matos de Letícia Malard. Editora autêntica.


Sou fã!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Paciência e parceria.




Alguém que nos ama de verdade, não vai ligar se dormimos em meio à uma conversa na madrugada,

se mudamos de assunto repentinamente,

ou pedirmos explicações sobre casos antigos e objetos desconhecidos que encontramos no quarto do parceiro (a).

Não vai ligar, mas vai responder ...

quando exigirmos esclarecimentos sobre alguém que liga depois da meia noite para o parceiro (a) enquanto está 

ao nosso lado. E depois de tudo, ainda sim,

vai fazer questão de deitar juntinho pra ouvir o nosso coração.



Não é legal?! 

=D

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O gato e o escuro. (Mia Couto)


Porque eu tô adorando os textos deste autor e porque eu amo gatos.


"Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história.
Pois ele nem sempre foi dessa cor.

Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas.
Todos lhe chamavam o Pintalgato.

Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto.
Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro.
O caso, vos digo, não é nada claro.

Aconteceu assim:
o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite.
Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro.
Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente.
A mãe se afligia e pedia:
- Nunca atravesse a luz para o lado de lá.

Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo.

Mas fingia obediência.

Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá.
Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam.

Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir.

Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho.

Até que a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite.

Quando regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou.

Estavam pretas, mais que breu.

Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim.
Não queria ser visto em flagrante escuridão.

Mesmo assim, no dia seguinte, ele insistiu na brincadeira.
E passou mesmo todo inteiro para o lado de além da claridade.
À medida que avançava seu coração tiquetaqueava.
Temia o castigo. Fechou os olhos e andou assim, sobrancelhado, noite adentro. Andou, andou, atravessando a imensa noitidão.

Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Olhou o corpo e viu que já nem a si se via. Que aconteceu? Virara cego?
Por que razão o mundo se embrulhava num pano preto?

Chorou.
Chorou.
E chorou.

Pensava que nunca mais regressaria ao seu original formato.
Foi então que ouviu uma voz dizendo:
- Não chore, gatinho.
- Quem é?
- Sou eu, o escuro. Eu é que devia chorar porque olho tudo e não vejo nada.

Sim, o escuro, coitado. Que vida a dele, sempre afastado da luz!
Não era de sentir pena? Por exemplo, ele se entristecia de não enxergar os lindos olhos do bichano. Nem os seus mesmo ele distinguia, olhos pretos em corpo negro. Nada, nem a cauda nem o arco tenso das costas. Nada sobrava de sua anterior gateza.
E o escuro, triste, desabou em lágrimas.

Estava-se naquele desfile de queixas quando se aproximou uma grande gata. Er a mãe do gato desobediente. O gatinho Pintalgato se arredou, receoso que a mãe lhe trouxesse um castigo. Mas a mãe estava ocupada em consolar o escuro. E lhe disse:
- Pois eu dou licença a teus olhos:
  fiquem verdes, tão verdes que amarelos.

E os olhos do escuro de amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.
O escuro ainda chorava:
- Sou feio. Não há quem goste de mim.
- Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.
- Então porque não figuro nem no arco-íris?
- Você figura no meu arco-íris.
- Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.
- Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.
- Não entendo, Dona Gata.
- Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
- Não estou claro, Dona Gata.
- Não é você que me te medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.

A mãe gata sorriu bondades, ronronou ternuras, esfregou carinho no corpo do escuro.
E foram carícias que ela lhe dedicou, muitas e tantas que o escuro adormeceu. Quando despertou viu que as suas costas estavam das cores todas da luz.
Metade do seu corpo brilhava, arco-iriscando. Afinal?
O espanto ainda o abraçava quando escutou a voz da gata grande:

- Você quer ser meu filho?

O escuro se encolheu, ataratonto.
Filho?
Mas ele nem chegava a ser coisa alguma, nem sequer antecoisa.
- Como posso ser seu filho se eu nem sou gato?
- E quem lhe disse que não é?
E o escuro sacudiu o corpo e sentiu a cauda, serpenteando o espaço. Esticou a perna e viu brilhar as unhas, disparadas como repentinas lâminas.
O Pintalgato até se arrepiou, vendo um irmão tão recente.

- Mas, mãe:
  sou irmão disso aí?
- Duvida, Pintalgatito?
  Pois vou-lhe provar que sou mãe dos dois.
  Olhe bem para os meus olhos e verá.

Pintalgato fitou o fundo dos olhos da sua mãe, como se se debruçasse num poço escuro. De rompante, quase se derrubou, lhe surgiu como que um relâmpago atravessando a noite.

Pintalgato acordou, todo estremolhado, e viu que, afinal, tudo tinha sido um sonho. Chamou pela mãe. Ela se aproximou e ele notou seus olhos, viu uma estranheza nunca antes reparada. Quando olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam encheram de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.
Ante a luz, porém, seus olhos todos se amarelavam, claros e luminosos, salvo uma estreitinha fenda preta.

Então, o gatinho Pintalgato espreitou nessa fenda escura como se vislumbrasse o abismo.
Por detrás dessa fenda o que é que ele viu?
Adivinham?
Pois ele viu um gato preto, enroscado do outro lado do mundo. "



Lindo né?


Apaixonei!


Novos planos: nova Vivência.


As coisas boas quando são inesperadas , são mais bonitas e arrancam sorrisos mais intensos.
Daí que este edital abriu e me inscrevi em maio, sem pretensões, e sem esperanças de vir a ser chamada. E o resultado saiu segunda-feira. Olha que felicidade.

A Casa Fora do Eixo é uma rede nacional de coletivos atuantes na área da cultura, e que busca integrar o conhecimento teórico e prático, tornando orgânicas as ações do aprender, ensinar e construir. Em Belém, a Casa situa-se alí na Aristides Lobo, entre 1 de Março e Padre Prudêncio, 292. O edital ao
qual me inscrevi, é para a vivência de três meses. Eu e mais quatro pessoas fomos selecionados e estaremos
 atuando junto a este coletivo buscando melhorar as formas de expressão artísticas da cena desta cidade. 


Aguardem. 

=D

terça-feira, 16 de julho de 2013

A noite dos sonhos.

Setenta e quatro anos, sete filhas, dezessete netos, cinco bisnetos e um mundo inteiro de histórias e lençóis.
Casada por 10 anos, separou-se por obrigações que não lhes agradavam.
Apanhava do marido enquanto sangrava por dentro. Sofria e não mais sorria. Despedaçava-se não mais vivia... Morria!

Um dia, acordou disposta a sumir e livrar-se de todo mal. Amém!

Olhou para si, para o espelho. Penteou os cabelos curtos esbranquiçados, colocou-lhe uns brincos de pérolas há tempos guardados. Passou um batom vermelho nos lábios murchos, quase sem vida. Pôs um vestido roxo e embriagou-se na noite e nos olhos de seu espelho. Saiu sem olhar para o passado.
Subiu no primeiro ônibus e parou na primeira festa.

No pop saudade, adentrou.
Foi direto ao balcão e pediu um balde.
Não demorou muito, se aproximou um senhor aparentando 40 anos  e com tom de deboche perguntou se a tia era nova alí. Ela disse que não, era puta velha no mundo, e estava alí para tirar uns atrasos que o tempo lhe causou.

                       A elegância viva, saiu sorrindo para o meio do salão, pronta pra arrasar na noite.

Daí veio a primeira dança, a segunda... Os dançarinos... O álcool subindo-lhe a cabeça...
O banheiro feminino...
O primeiro, o segundo, o terceiro pau duro...

Corpos que se enlaçavam em fogo adormecido. Sedentos, famintos.  Devorada à seco pela frente, por trás, por cima e por baixo.
Cavalgou, esfregou-se, sentou, enroscou-se naqueles animais erectos que lhe invadiam a felicidade no presente de emoções que há tempos não sentia.

Lambia ferozmente todas as extremidades e caminhos profundos de seus parceiros. Provou do sangue e da pureza do viril. Mordeu, mastigou, sugou cada falo saliente como se fosse o último.
Sem escrúpulos e educação, foi comida com as mãos, pés, língua...
Sujou a parede, as pernas, a face, sanou as lembranças ruins do passado.

Sentou no vaso, com o sorriso no rosto, quieta
Muda. Ausente de si.
Sozinha.

Sumiu.

Nunca mais voltou ao passado de lágrimas ou ao futuro de amores.
Dormiu um sonho de gozo profundo e eterno.








Desejos de outrora.

Que o vento me leve pra bem longe dos pensamentos ruins.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

É tempo de melhorias, porque a luta já tá rolando .

  [...]
                        Tapuios da minha terra
                        Caboclos do meu Pará
                        Tão ruim quanto uma guerra
                        É viver ao “Deus dará”
                        Em uma paz mentirosa
                        Que deve ter outro nome
                        Porque é sempre enganosa
                        A paz do povo com fome”.

 Nazareno Tourinho


terça-feira, 2 de julho de 2013

Lá fora, dias de luta, eu sei!

Mas aqui dentro, a força que pulsa o coração

d e s a l i n h a          o            t e m p o
       comove                            a alma
Que contamina         o corpo

Adoeço com um desânimo que parece incurável.


Tenho mania de olhar para dentro de mim.

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